por Samuel Celestino
Depois do metrozinho de Salvador que anda sobre os trilhos com a maior lerdeza e até hoje não se sabe quanto foi gasto com a obra e para o bolso de quem foi o dinheiro, o problema agora é com a Fiol, Ferrovia de Integração Oeste-Leste. De há muito a ferrovia já deveria ter chegado ao porto de Ilhéus como fator de desenvolvimento para a região sul do estado, antes região cacaueira que praticamente sustentava a economia baiana, lá pelos anos 40 e 50 do século passado, com os embarques do cacau para o exterior.
Há nove anos a ferrovia foi iniciada. Atravessou os dois mandatos de Jaques Wagner e no momento é tocado pela gestão do governador Rui Costa. De repente, não mais, chega uma recomendação do Tribunal de Contas da União para paralisar literalmente a obra. Por que razão? O TCU detectou algum problema sério na Fiol a ponto de determinar que se paralisem o assentamento dos trilhos? Há alguma maracutaia nas obras da ferrovia para que o Tribunal determine a paralisação imediata? Não há que se tenha conhecimento de indícios para isso, a não ser que eles surjam. Aí será outra coisa.
O que pretende o TCU é uma incógnita. O certo é que a decisão prejudica a Bahia empacando uma ferrovia que será, quando pronta – se assim o TCU quiser – um fator de desenvolvimento para o estado, ligando oeste ao leste para facilitar uma aguardada transformação que beneficiará o estado, a sua produção agrícola, enriquecendo os municípios produtores, especialmente de grãos, a exemplo da soja. Além do mais, haverá um boom desenvolvimentista da região sul da Bahia que passará por transformação também significativa para o estado da Bahia, principalmente as regiões que serão cortadas pela Fiol.
O sul do estado de há muito aguarda por esta transformação. Especialmente o município de Ilhéus que hoje atravessa imensas dificuldades, de tal maneira que até o turismo de lá se ausentou. Ilhéus, queira-se ou não, se tornou decadente porque há ausência de obras necessárias, como a ponte Ilhéus-Pontal, que foi construída no início dos anos 60 pelo então governador Lomanto Jr. Até agora houve muitas promessas para a construção de uma nova ponte, mas ficaram esquecidas. Sobre o seu aeroporto, com promessas idênticas de construção de um novo, não convém sequer falar.
A Ferrovia Oeste-Leste, a Fiol, seria a salvação de inúmeros municípios baianos principalmente a Ilhéus de Gabriela, personagem maior de Jorge Amado, nascido grapiúna, mas não no município. Ilhéus é hoje uma cidade maltratada como, de resto, a maioria dos municípios baianos, embora ainda bonita. O governador Rui Costa denunciou o que chamou de “meia dúzia de burocratas”, referindo-se aos integrantes do Tribunal de Contas, seja lá quem sejam. Seguramente eles não passam disso. Rui irá reclamar em Brasília, como é do seu dever, e disse que não pretende acatar a posição do tribunal. De outro modo, fez muito bem em convocar lideranças político-partidárias, independentes das legendas, porque o que está em jogo é uma reivindicação da Bahia. Todos os convocados devem entender que é um chamamento da Bahia e não do governador.
O Tribunal de Contas da União, por que razão não se sabe, chegou a dizer, através de algum burocrata cabeçudo, que a ferrovia não será construída na sua “extensão total”. Ora, a Fiol é uma ideia que vem de longe, a começar pelo deputado e engenheiro Vasco Neto, já falecido, que primeiro pensou no Porto de Campinho, na baía de Camamú-Maraú. Visionário estendeu o seu sonho a partir da Bahia, imaginando uma ferrovia Transulamericana. Só não visualizou o oeste baiano porque era um território distante que deu lugar a uma nova fronteira agrícola, quando somente havia o pequeno o município de Barreiras. Hoje, o oeste é riquíssimo em grãos e está totalmente integrado ao estado.
Citei o visionário Vasco Neto para fazer um contraponto aos quase imbecis, se não forem imbecis inteiros, que querem reduzir a extensão da ferrovia Oeste-Leste, a Fiol.
* Coluna publicada originalmente na edição desta quinta-feira (28) do jornal A Tarde