Pouco mais de dois meses após a troca de comando na Vale, começa a ser avaliada a ideia de a companhia fazer uma parceria com o braço de mineração da CSN, segundo fontes do setor. No foco, estaria a compra de uma fatia ou uma joint-venture com a Congonhas Minérios, subsidiária da siderúrgica que reúne a mina de Casa de Pedra, além de outras duas minas menores (Engenho e Pires), em Minas Gerais, e ativos de logística. Com dívida líquida de R$ 25,8 bilhões, a siderúrgica vem tentado se desfazer de ativos para levantar recursos. A Vale, por sua vez, teria ganhos de sinergia com a operação, já que a ferrovia e o porto usados para escoar o minério da CSN também são utilizados pela mineradora.
A CSN começou a negociar seu braço de mineração com chineses no ano passado, mas as conversas ainda não vingaram. A empresa de Benjamin Steinbruch colocou alguns ativos não estratégicos à venda, mas só conseguiu se desfazer da fabricante de latas de aço Metalic, vendida por US$ 98 milhões à polonesa Can-Pack, em 2016. Além de endividada, a companhia vive um impasse: até agora não publicou o balanço financeiro de 2016, por questionamentos dos auditores externos. O problema apontado pelos auditores está justamente na operação que reuniu os ativos de mineração e logística para formar a Congonhas Minérios.
A empresa foi criada no fim de 2015, a partir da integração de Casa de Pedra e das minas (Engenho e Pires) da Namisa, companhia da qual a CSN detinha 60%, e os parceiros asiáticos, 40%. A Congonhas Minérios detém, ainda, uma fatia na MRS — principal ferrovia de escoamento da produção mineral de Minas Gerais para o Rio — e o terminal portuário Tecar, em Itaguaí, que movimenta cargas a granel, como minério de ferro e carvão. É por lá que é exportado o minério de ferro que a siderúrgica de Volta Redonda não consome. Na época de sua criação, a empresa foi avaliada em US$ 16 bilhões. Na reorganização societária que resultou na criação da empresa, a CSN ficou com 87,52% da subsidiária, e os asiáticos, com os 12,48% restantes.
— As minas de Vale e CSN são próximas, as duas usam a MRS para escoar minério até o Rio e têm terminais portuários em Itaguaí, de onde exportam o produto. Uma parceria faria todo sentido — diz um executivo do setor.
DISPUTA POR CASA DE PEDRA
Juntas, Vale e CSN tem 81% da MRS, considerando a fatia direta das empresas, a participação da Congonhas Minérios e da MBR, subsidiária da Vale. A mineradora vendeu 36,4% desta última para um fundo do Bradesco BBI em 2015, mas manteve 98% do seu capital votante. No segundo trimestre de 2017, a MRS teve lucro líquido de R$ 144,5 milhões, salto de 68,8% em relação a igual período do ano passado.
Casa de Pedra é um dos ativos mais valiosos da CSN, devido à qualidade do minério. Ao lado das outras duas minas (Engenho e Pires), as reservas são estimadas em 3 bilhões de toneladas. Casa de Pedra foi alvo de longo litígio envolvendo Vale e CSN. Em 2001, quando ocorreu o descruzamento de ações das empresas, foi acordado que a Vale teria direito de preferência sobre o minério excedente da mina, ou seja, a mineradora poderia comprar todo o minério que não fosse usado para alimentar os altos-fornos de Volta Redonda.
As duas empresas se enfrentaram na Justiça, questionando termos do acordo. Em 2010, encerraram a disputa. Hoje, a CSN pode vender o excedente de seu minério a quem quiser. Na gestão de Roger Agnelli, que deixou a Vale em 2011, Casa de Pedra sempre foi cobiçada, mas Steinbruch não quis vendê-la. Agora, diante da dívida bilionária, o executivo considera se desfazer de parte da mina. A peça-chave na negociação é Juarez Saliba, ex-executivo de CSN e Vale, que voltou à mineradora como assessor da presidência na gestão de Fabio Schvartsman. Vale e CSN não comentaram o assunto.
Fonte: O Globo