A Vale quer ultrapassar as concorrentes australianas e tornar-se a maior fornecedora de minério de ferro da China, disse o presidente da companhia, Murilo Ferreira, em entrevista à agência de notícias chinesa “Caixin”. Em 2015, a empresa vendeu quase 180 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas para o mercado chinês, ficando em terceiro lugar, atrás das rivais Rio Tinto e BHP Billiton. Com a estratégia de formar acordos com armadores chineses e montar um centro de distribuição na China, a Vale pretende chegar a 250 milhões de toneladas, o que representa aumento de quase 40% em relação ao ano passado.
Ferreira também sinalizou, na conversa com a agência chinesa, que poderá ter novidades a curto prazo: “Vamos em breve anunciar uma operação que vai poder satisfazer os credores”, afirmou, sem entrar detalhes. O mercado interpretou a frase como um sinal de que a Vale pode estar prestes a fechar nova operação de desinvestimento. No mercado, fontes consideram que a mineradora poderia fazer parceria com chineses no projeto de minério de ferro S11D, em Carajás, que vai entrar em operação este ano. Os chineses, avaliam fontes, poderiam comprar fatia do negócio ou pagar antecipadamente por volumes de produção. Outra hipótese é o fechamento da parceria com os japoneses da Mitsui no negócio de carvão em Moçambique, acordo que deve injetar dinheiro novo no caixa da Vale. Mas o acordo ainda depende de aprovações regulatórias.
Segundo um analista, para que a Vale consiga cumprir a meta de reduzir a dívida líquida da companhia em US$ 10 bilhões em 18 meses – como já anunciado por Ferreira -, será preciso vender fatia em algum ativo de minério de ferro. A Vale passou a admitir este ano, pela primeira vez, a venda de ativos prioritários, sem exceções, para fazer frente ao objetivo de desalavancar a empresa. Parte do mercado vê, porém, com restrições, uma eventual parceria no S11D pois considera que a Vale estaria dividindo com terceiros o crescimento futuro do seu melhor ativo. “A empresa também pode optar por vender ações preferenciais adicionais [em algum projeto de minério de ferro], como fez em 2015”, disse o analista.
Na entrevista à “Caixin”, Ferreira justificou a previsão de aumento das vendas para a China ao dizer que a visão de longo prazo da companhia é melhor do que as projeções de mercado. Ferreira afirmou que o minério deve ficar cotado entre US$ 65 e US$ 80 por tonelada a longo prazo. Hoje, o produto vale US$ 56 por tonelada. O presidente da Vale mencionou a projeção à “Caixin” em resposta à agência de classificação de risco Moody’s, que, além de ter retirado seu grau de investimento no fim de fevereiro, cortando o rating para “Ba3”, usou em seus modelos uma cotação de US$ 40 a US$ 45 para o minério a longo prazo. “Eles estão sempre tentando impor sua filosofia à Vale. Eu discordo desses cálculos”, disse Ferreira.
Outro ponto que sustenta o aumento de oferta para a China é a contínua redução de custos para o produto entregue no país. Há alguns anos, levar o minério de ferro para o mercado chinês custava cerca de US$ 90 por tonelada, disse o executivo, mas esse valor já caiu a US$ 32 recentemente. No primeiro trimestre, acrescentou na entrevista, o custo pode recuar a US$ 30 ou menos. Na entrevista à agência chinesa, Ferreira revelou sua projeção para a indústria siderúrgica chinesa. Afirmou que o ambiente de negócios para o setor melhorou no país nos últimos meses, principalmente pela percepção de que haverá abundância de crédito. Isso, completou, auxiliou na alta dos preços do minério de ferro.
Segundo a visão de Ferreira, a indústria vai melhorar em 2016, na comparação com o ano passado. “Não vamos ver algo brilhante, como em 2011 ou 2012, mas será uma situação melhor do que em 2015. Acredito que seja sustentável esse nível e podemos ver alguma alta no mercado”, afirmou. Ainda comentando sobre a Moody’s, o executivo disse que o programa de desinvestimentos da Vale prevê US$ 12 bilhões em recursos que irão a seu caixa, o que vai reforçar o perfil de crédito.
Ontem, com a movimentação mais forte no porto de Qingdao, na China, os preços do minério de ferro subiram ao maior nível em duas semanas. A cotação do produto com teor de 62% de ferro avançou 4,8%, para US$ 56,62 a tonelada, segundo levantamento da “Metal Bulletin”.
Fonte: Valor Econômico