As negociações da Vale para venda da fatia de 40% que detém na Mineração Rio do Norte (MRN) podem não acontecer conforme o esperado pela mineradora. A MRN é uma produtora de bauxita – minério utilizado na fabricação do metal alumínio -, no norte do Pará. O principal interessado na participação acionária da Vale na MRN é a norueguesa Hydro e as duas vêm negociando um acordo há algum tempo. A Vale deu indicações, porém, que as tratativas podem não chegar a bom termo, levando a abertura de negociações com uma terceira parte.
Em teleconferência com analistas sobre os resultados da Vale no primeiro trimestre, o presidente da mineradora, Murilo Ferreira, afirmou: “Sobre a MRN, creio que infelizmente não chegamos a um acordo com uma entidade que é atualmente sócia da MRN. Então decidimos abrir discussão com uma terceira parte e estamos no começo do processo novamente.” Ferreira não citou nominalmente a Hydro, mas em outubro do ano passado a companhia norueguesa havia comunicado ao mercado a assinatura de memorando de entendimento com a Vale para uma possível compra da fatia de 40% da mineradora brasileira na MRN.
O memorando tinha uma série de condições precedentes a serem cumpridas, entre as quais auditoria e aprovação por órgãos de defesa da concorrência. Vale e Hydro também iriam buscar apoio dos demais acionistas da MRN para o acordo. De Oslo, o vice-presidente sênior de comunicação da Hydro, Halvor Molland, disse ao Valor, por email, que a companhia está finalizando o processo de auditoria previsto dentro do memorando. E que a Hydro está em “ativo” diálogo com a Vale em torno dos termos de um “potencial” acordo.
No mercado, analistas interpretaram a frase de Ferreira como sendo o fim das discussões para que a Hydro compre os 40% da Vale na MRN. A resposta dos noruegueses, porém, parece deixar a “porta” entreaberta para um possível acordo. Não está claro se haveria interesse dos demais acionistas da MRN de exercer o direito de preferência sobre as ações da Vale na companhia. Esse eventual interesse poderia ser um fator de dificuldade para que a Hydro amplie sua fatia na MRN.
Os sócios da MRN, além da Vale (40%), incluem gigantes da mineração mundial: Alcoa (18,2%), Rio Tinto (12%), South 32 (14,8%), Votorantim CBA (10%) e a própria Hydro (5%). Analistas entendem que se o negócio chegar a bom termo a tendência será de uma maior concentração na produção de bauxita no Brasil, uma vez que, dificilmente, empresas que não são produtoras do mineral investiriam na compra de ativos como o da MRN.
A exceção à regra de uma maior concentração na produção de bauxita no Brasil podem ser os chineses, que precisam assegurar acesso à matéria prima. Empresas chinesas podem ter interesse em assegurar volume de produção ou mesmo uma fatia acionária na MRN, avaliam analistas. A China é o segundo maior produtor mundial de bauxita, atrás da Austrália, mas a produção local não é suficiente para atender às necessidades do mercado chinês. O Brasil, por sua vez, é o terceiro produtor mundial da commodity e ocupa idêntica posição no ranking de países com maiores reservas de bauxita, atrás da Guiné e da Austrália.
A MRN tem capacidade para produzir 18 milhões de toneladas de bauxita por ano. As licenças de mineração da empresa em Oriximiná, no norte do Pará, abrangem área de 143 mil hectares. A companhia também possui infraestrutura logística própria, incluindo um porto no rio Trombetas, um afluente do rio Amazonas. No relatório 20-F de 2015, enviado no fim de março à SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, a Vale afirmou que em 2014 já havia vendido para a Hydro fatia na Paragominas, outra produtora de bauxita. E acrescentou: “E vamos vender participação indireta de 13,63% [na Paragominas] para a Hydro em 2016. Estamos também negociando uma potencial venda de nossa participação de 40% na MRN para a Hydro.”
Nos últimos anos, a Vale vendeu para a Hydro a quase totalidade de seus ativos de mineração, alumina e alumínio no Brasil. Manteve só a participação na MRN e uma fatia minoritária na Paragominas. A mineradora brasileira decidiu deixar o setor em 2010 com o argumento de que não dispunha de escala global para atuar de forma competitiva no setor de alumínio.
Em 2013, a Vale vendeu a fatia de 22% que detinha na Hydro, negócio que rendeu lucro de US$ 1,8 bilhão. Essa fatia havia sido adquirida, originalmente, em 2011, como contrapartida à transferência de parte substancial do negócio de alumínio da Vale para os noruegueses.
Em 2011, a Hydro adquiriu uma série de ativos de alumínio da Vale, entre os quais 57% na Alunorte (refinaria de alumina, matéria prima para a produção de alumínio), a mina de Paragominas e 51% da Albras (fábrica de alumínio). O entendimento incluiu também acordos comerciais segundo os quais os noruegueses passaram a ter direito à parte da Vale na produção de bauxita da MRN.