A esperada recuperação da colheita brasileira de grãos nesta safra 2016/17, que deverá alcançar um recorde da ordem de 215 milhões de toneladas, tende a abrir espaço para que as exportações pelos portos do chamado Arco Norte voltem a aumentar e a ganhar participação nos volumes totais de soja e milho que deverão ser embarcados neste ano.
Estudo inédito feito por técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) calcula que 23,8% das 96,9 milhões de toneladas de soja (e derivados) e milho que deverão deixar o país em 2017 sairão pelo Norte. No ano passado, em parte pela redução da oferta no “Matopiba” (confluência entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a participação recuou para 19%, ante os 21% de 2015 – maior nível observado até agora.
O estudo da Conab indica que o incremento da participação dos portos do Norte nas exportações desses grãos deverá aliviar um pouco o movimento em portos que tradicionalmente lideram os embarques, como Santos (SP) e Paranaguá (PR). Uma competição bem-vinda do ponto de vista de custos, em um segmento cujas margens de lucro são normalmente apertadas.
Não por acaso, esse aumento da participação da região Norte na logística de escoamento de grãos do país se deve a investimentos bilionários do setor privado na região, sobretudo às margens do Tapajós. Nos últimos anos, empresas como Bunge, Amaggi, ADM, Glencore, Hidrovias do Brasil e Cargill se posicionaram ao longo do rio amazônico e em terminais portuários em Santarém e Barcarena, no Pará, consolidando a rota para o Norte.
De acordo com a Conab, 72,9 milhões de toneladas de produtos do chamado “complexo soja” (grão, farelo e óleo) e 24 milhões de toneladas de milho deverão ser exportadas pelo país este ano, desde que as colheitas previstas não sejam frustradas por adversidades climáticas. No Norte, a “liderança” deverá ficar com o Porto de Itaqui, em São Luís (MA), por onde deverão sair 8,6 milhões de toneladas no total, 75% mais que no ano passado.
O porto de Barcarena (PA), por sua vez, deverá escoar 3,7 milhões de toneladas, 88% mais que em 2016, seguido por Itacoatiara (AM), com 3,5 milhões (aumento de 9,3%), e Santarém (PA), com 3,3 milhões de toneladas (crescimento de 37,5%). A partir de 2020, espera-se que esteja à disposição no Norte uma capacidade operacional para cerca de 40 milhões de toneladas de grãos ao ano, à medida em que concessões avançarem e aportes privados esperados de outros players forem concretizados.
Para este ano, o aumento dos volumes previstos de fato refletirá a prevista recuperação da colheita no “Matopiba”. Conforme a Conab, as exportações de soja produzida nessa fronteira agrícola deverão crescer 75%, para 11,9 milhões de toneladas em 2017. Mas os embarques de produtos oriundos de Mato Grosso, que lidera a produção nacional de grãos, também tendem a aumentar: 12%, para 29,1 milhões de toneladas.
A Conab também chama a atenção para deficiências que podem comprometer o acesso aos portos do “Corredor Norte”. “Ainda existe uma carência na infraestrutura de transporte entre as zonas de produção e os portos do sistema do Arco Norte. Algumas das rodovias carecem de manutenção e ainda não foram asfaltadas, as hidrovias estão necessitando de sinalização e a malha ferroviária é pouco dispersa, fazendo com que os veículos rodoviários de carga tenham que se deslocar por longas distâncias para encontrar um terminal ferroviário”, destaca o estudo, assinado pelo analista de mercado Carlos Eduardo Tavares.
Fontes do setor reforçam o diagnóstico, ressaltando que os embarques de soja e milho pelo Norte ainda não são maiores devido a problemas antigos na BR-163, que liga Mato Grosso ao Pará e por onde centenas de caminhões precisam passar até chegar aos portos. A rodovia federal tem um trecho de cerca de 100 quilômetros ainda sem asfaltamento adequado, o que implica atoleiros frequentes nos meses de chuva (justamente o período de escoamento da soja brasileira), que limitam a capacidade de operação dos portos e impedem uma queda acentuada dos fretes.
Apesar da recuperação do crescimento dos portos do Norte, Santos e Paranaguá deverão registrar aumentos nos volumes de soja e milho embarcados em 2017, ainda que suas participações no total tendam a recuar. No porto paulista, o incremento projetado pela Conab é de 0,6%, mas sua fatia no volume total deverá cair de 35% para 30,9%; no paranaense, os volumes deverão ser 9,6% maiores, mas a participação no total deverá diminuir de 18% para 17,5%.
Fonte: Valor Econômico