A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), região habitada por 55 milhões de brasileiros, aproveitou o momento das negociações do trem de alta velocidade entre Rio e São Paulo para, junto com a Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, lançar os estudos do Trem do Sol, uma ferrovia de 2,7 mil quilômetros que ligará as capitais do Nordeste, de Salvador à São Luís, voltado para transportar cargas e apoiar programas de turismo interno. A ferrovia oferece nova alternativa à logística regional de transportes. Os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental serão desenvolvidos pelas Universidades Federais da Bahia, Pernambuco e Ceará.
Inspirada pelo Programa de Investimentos em Logística: Rodovias e Ferrovias lançado pelo governo federal, que prevê investimentos de R$ 133 bilhões, a Sudene oferece soluções. No modal de ferrovias, foi prevista a aplicação de R$ 91 bilhões na construção e modernização de 10 mil quilômetros de linhas férreas, sendo R$ 56 bilhões em cinco anos e R$ 35 bilhões em 25 anos.
Enquanto o Brasil, país continental, reestuda o transporte ferroviário, é interessante ter uma visão global do que está acontecendo no setor. O trem de Alta Velocidade (TAV) crescem ao redor do mundo e, de acordo com o relatório do WWI-Worldwatch Institute, a expectativa é que o número de países utilizando esses trilhos duplique nos próximos anos. Em 2014, trens de alta velocidade estarão operando em 24 países, incluindo China, França, Itália, Japão, Espanha e Estados Unidos. Até o momento, apenas 14 países utilizam o serviço.
De janeiro de 2008 a janeiro de 2012, a frota operacional global de trens rápidos cresceu de 1,737 para 2,517, dois terços dessa frota estão em cinco países: França, China, Japão, Alemanha e Espanha. Até 2014, a expectativa é que a frota global chegue a 3.700 unidades. O TAV não é apenas mais confiável, como também é mais seguro e benéfico para o ambiente do que carros e aviões. Uma comparação de emissão de gases de efeito estufa revelou que as linhas de TAV na Europa e no Japão emitem entre 30 a 70 gramas de dióxido de carbono por passageiro/km, versus 150 gramas para automóveis e 170 gramas para aviões, critérios econométricos da sustentabilidade exigidos para novos financiamentos em todo o mundo.
Segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o Brasil precisaria de uma malha ferroviária de 52 mil quilômetros para atender a demanda atual de transporte de produtos no país, quase dobrando os 29,8 mil quilômetros existentes hoje, iniciados no Século XIX pelo Barão de Mauá, pioneiro das ferrovias brasileiras, que construiu a primeira delas na região da cidade imperial de Petrópolis, com 16,9 km de extensão, inaugurada por D. Pedro II, em 1854.
A implantação do sistema ferroviário representou a chegada da modernidade e do progresso, promovendo a transformação do espaço social, a cultura, as relações sociais, econômicas e políticas. O transporte ferroviário nacional escreve parte da história econômica, social e política do país, observada a sua amplitude material e imaterial, embutindo vivências de um passado marcado por auges e decadências, constituindo-se como importante patrimônio cultural. Hoje, o Brasil tem 32 trens turísticos em operação espalhados por 11 estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, onde passeios proporcionam uma prazerosa viagem pela história.
Numa economia globalizada a conservação do patrimônio cultural permite o reencontro com as raízes das comunidades e a reafirmação das identidades locais, um potencial atrativo para o planejamento e expansão do turismo regional. O Trem do Sol, ligando as ensolaradas e turísticas capitais nordestinas – de Salvador a São Luís -, será tema de debates na bicentenária Associação Comercial da Bahia que, preservando a história, abraça o paradigma da sustentabilidade de resultados abrindo as cortinas das janelas do futuro – sonhar é preciso.
Fonte: Bahia Notícias