A Valor da Logística Integrada (VLI), empresa criada em 2010 que “herdou” os ativos logísticos da mineradora Vale, completou sua capitalização e agora dedica as atenções à estruturação operacional do negócio. Estão previstos R$ 9 bilhões de investimentos até 2018, entre capital próprio e financiamento, para dobrar a capacidade de movimentação do sistema. Paralelamente ao plano, a empresa negocia a devolução de trechos de ferrovia à União e já se prepara para atuar no novo modelo de operação ferroviária criado pelo governo Dilma Rousseff.
Os investimentos da VLI ocorrem após conclusão, há quatro meses, de uma capitalização de R$ 2 bilhões com a entrada de novos acionistas no bloco de controle. Um fundo gerido pela Brookfield Asset Management comprou 26,5%. A japonesa Mitsui adquiriu 20% e mais 15,9% ficaram com Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). A estratégia da Vale, que ganhou R$ 2,7 bilhões com a redução de sua participação para 37,6%, era reduzir a exposição a ativos não principais.
Marcello Spinelli, presidente da VLI, disse ao Valor – em sua primeira entrevista após a nova estrutura societária -, que seu principal desafio agora é “montar” a estrutura operacional da empresa. “No fundo, a VLI ainda é um quebra-cabeça e nós estamos preenchendo as peças. O sistema não está completo”, resume.
Entre os principais investimentos, está obra de R$ 2,2 bilhões no Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita (Tiplam), em Cubatão (SP). Hoje, o terminal voltado à descarga de enxofre, rocha fosfática, fertilizantes e amônia e está apto a movimentar 2,6 milhões de toneladas ao ano. No futuro, vai movimentar também grãos e açúcar e ainda quintuplicar a capacidade atual para 14,7 milhões de toneladas/ano. A previsão é concluir as obras em 2016.
Outro investimento é o montante de R$ 3,5 bilhões destinado à megacompra de 10 mil vagões e 220 locomotivas. Neste ano, já foram compradas 42 locomotivas (sendo 34 de fabricação no Brasil) e 2.155 vagões, todos nacionais.
Spinelli diz que, apesar dos investimentos em material rodante, a empresa tem que dedicar esforços à melhoria nas extremidades do sistema operacional, o que significa melhorar terminais e portos. “Hoje, o trem fica 40% do tempo da viagem parado nas pontas. Então, não adianta ter um trem com velocidade supersônica e ficar esperando no porto”. Por isso, se inspirou no conceito operacional da Vale ao controlar terminais no interior, ferrovias e portos. “Montamos um modelo que não é uma grande novidade, mas é um conceito vencedor para grandes escalas”, diz.
A VLI controla duas concessionárias de ferrovia. Uma delas é a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), com 7,2 mil km de extensão e passa por Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia, São Paulo e Distrito Federal. A outra é a Ferrovia Norte-Sul, com 720 km de linha de Açailândia (MA) a Porto Nacional (TO). Além disso, tem contratos para transportar cargas nas ferrovias sob concessão da Vale: Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e Estrada de Ferro Carajás (EFC).
No ano passado, com transporte de 46 milhões de toneladas, entre produtos agrícolas (um terço), siderúrgicos (outro terço) e industrializados, a VLI teve receita líquida de R$ 2,6 bilhões. Em 2014, até o terceiro trimestre, foram 35,5 milhões de toneladas.
Com a expansão, o transporte e embarque de açúcar (4 milhões de toneladas) e de fertilizantes vão ganhar destaque no mix de cargas. Assim, o segmento agrícola ampliará seu peso no total.
A empresa descarta participar de leilões de concessão de ferrovias a serem leiloadas pelo governo federal. No entanto, diz ter interesse em trabalhar como transportador na malha a ser construída. No modelo criado pelo governo, um concessionário (o chamado gestor de infraestrutura ferroviária, ou GIF) assume o contrato para a construção e manutenção da via, mas não pode transportar carga. A estatal federal Valec é quem assume a comercialização da capacidade da via a diferentes transportadores – o operador ferroviária independente, ou OFI. “Temos total interesse em participar do PIL [Programa de Investimentos em Logística, o pacote de concessões]. Não como concessionário de infraestrutura, mas sim como OFI”, diz Spinelli.
O executivo revela ainda que a empresa já registrou no governo um pedido para se tornar transportadora no trecho da Norte-Sul recém-concluído pela Valec de Anápolis (GO) a Palmas (TO). “Hoje, o trecho está parado. Porque, depois de a ferrovia estar pronta, tem que fazer toda a infraestrutura que nasce em volta, como terminais. Para carregar grãos, é um ano pelo menos”, afirma. A VLI atuaria nesse novo trecho sob um regime em que a Valec controla a infraestrutura ferroviária e vende cotas de movimentação a diferentes interessados privados – a VLI seria um deles. O trecho atraiu pelo menos mais um transportador, mas a estatal não divulga o nome dos que se manifestaram, justificando que o processo é sigiloso.
Paralelamente à vontade de participar do novo modelo, a VLI continua negociando com o governo a devolução de trechos da ferrovia da FCA à União. A negociação mais fácil foi a de trechos considerados antieconômicos, que já estavam sem operação por ausência de demanda. Nesses casos, os investimentos que seriam necessários para recuperar as condições da via foram convertidos em obras em trechos com transporte regular, como obras para melhoria de cruzamentos em espaços urbanos.
O investimento alcança R$ 956 milhões, informou a VLI, a serem feitos até o fim da concessão. “A grande negociação foi de quanto seria esse valor. Foi ótimo, excelente. O bom acordo é aquele que você resolve problemas. Nós resolvemos esse”, afirma Spinelli.
Além dos trechos “antieconômicos”, o governo federal requereu a devolução de linhas da FCA em operação. O objetivo é fazê-las se integrar ou se conectar com os trechos do novo modelo de ferrovias do país. A FCA concordou em devolver, ficando garantida à empresa uma quantidade pré-definida de capacidade operacional a ser utilizada pela FCA nos novos trechos do PIL. A empresa segue operando esses trechos até que o PIL entre em operação ou a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) autorize a desmobilização.
Fonte: Valor Econômico