Os produtores de soja da América do Sul colocam as colheitadeiras em campo e começam a enviar a produção para os armazéns. A produtividade surpreende em diversas regiões, e mais uma boa safra deverá ser consolidada.
A produção da América do Sul será de 167 milhões de toneladas, 49% dos 338 milhões de toneladas a serem colhidos no mundo.
O Brasil será responsável por 62% do volume da América do Sul, e a soja gerará receitas de R$ 120 bilhões para os sojicultores brasileiros.
Os produtores também estão esperançosos no Paraguai. A safra, embora possa ter problemas pontuais em algumas áreas, apresenta-se como uma das melhores.
O produtor José Rubio percorre suas lavouras, arranca um pé de soja e conta as vagens: são 124. Em seguida, abre uma delas e avalia a formação e o peso dos grãos.
“É soja para mais de 4.000 quilos por hectare”, conclui.
Esse volume condiz com as áreas já colhidas pelo produtor, onde as máquinas retiraram 4.500 quilos por hectare.
A média de produção no Paraguai, no Brasil, na Argentina e até nos EUA tem girado por volta de 3.000 quilos.
Rubio, produtor do Departamento de Caaguazú, na região leste do país, diz que desta vez acertou ao semear a soja no início de setembro.
O clima ajudou, e a produtividade está elevada.
Os produtores do Paraguai que anteciparam o plantio no ano passado têm outro bom motivo para comemorar: as colheitadeiras avançam sobre a área de soja e os tratores vêm logo em seguida fazendo um novo plantio, a chamada safrinha.
Mas esse não é o cenário para todo o país. As regiões que semearam mais tarde estão com um desenvolvimento mais lento da safra.
Mesmo assim, será uma safra recorde, podendo alcançar 9,5 milhões de toneladas.
Para atingir esse volume, basta a produtividade deste ano ficar no mesmo patamar médio de 2016, ou seja, 46 sacas por hectare, segundo Daniele Siqueira, da AgRural.
Outro fator que anima os produtores de soja são os preços, que se mantêm em patamares bons.
PROBLEMAS
O cenário, bom para uns, é ruim para outros. Enquanto os americanos já tiraram do campo o volume recorde de 118 milhões de toneladas de soja e os brasileiros devem obter um volume de 104 milhões, também recorde, os argentinos têm problemas.
Reduziram a área de plantio em 4,5%, para 19,2 milhões de hectares, e o clima não tem ajudado.
A manutenção dos preços da soja acima de US$ 10 por bushel (27,2 quilos) em Chicago se deve, em boa parte, à menor safra argentina, de acordo com Daniele.
Projetada em até 57 milhões de toneladas inicialmente, a safra dos vizinhos deverá ficar em 52 milhões.
A redução de área ocorreu porque parte dos produtores argentinos trocou o plantio de soja pelo de milho.
Mesmo com a quebra de safra na Argentina, a América do Sul produzirá 167 milhões de toneladas, mesmo volume de 2016, segundo Daniele.
BRASIL
As condições de produção no Brasil não divergem muito das do Paraguai. Há chuva em algumas regiões de Mato Grosso, Estado líder de produção, e atraso na colheita no Paraná (segundo maior produtor) devido ao frio durante o desenvolvimento das lavouras.
A Bahia, que era um Estado mais problemático no início da safra, tem melhorado, enquanto Goiás e Mato do Grosso Sul têm áreas com seca. Já o Rio Grande do Sul não teve a seca prevista, mas boa parte da soja ainda está em fase vegetativa.
Em resumo: “Por ora tudo certo e sem grandes problemas na produção”, afirma a analista da AgRural.
Endrigo Dalcin, presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), concorda com Daniele.
“Não vejo grandes mudanças nos números para este ano”, referindo-se às estimativas de produção do Estado: produtividade de 54 sacas por hectare (3.240 kg) e um total de 30,4 milhões de toneladas.
O preço, que esteve entre R$ 70 e R$ 75 por saca na região, caiu para a faixa de R$ 62 a R$ 64. “Uma nova alta fica por obra do câmbio, novas delações na Lava Jato ou uma política controversa de Donald Trump”, diz Dalcin.
Daniel Latorraca, presidente do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), também não acredita em mudanças nas estimativas de safra para o Estado, mas a colheita não está com o ritmo esperado.
As chuvas em algumas regiões podem derrubar a qualidade da soja, dificultar a comercialização e atrasar o plantio de milho. Ele se diz, no entanto, confiante em que esta será uma boa safra.
Fonte: Folha de São Paulo